Emília Alves da Silva Rodrigues vive há 46 anos na cidade de São Miguel do Tocantins, que fica na região do Bico do Papagaio, no extremo norte do estado do Tocantins. Desde que chegou, em 1971, viu muita coisa mudar onde ela mora. Logo no início, era praticamente tudo mata virgem, não tinha capoeira e as famílias que por lá chegavam faziam casas e roças onde achavam melhor.
Porém, o tempo foi passando e as coisas foram se complicando, porque a área começou a ser “terra de dono”, que muitas vezes não deixava quem já estava no local antes de continuar a trabalhar e viver. Muitas famílias, inclusive a de Dona Emília, chegaram a ser expulsas da região e tiveram que passar até dois anos foram daquela terra. Mas depois de muita luta e esperança, em 1988, foi criado o Projeto de Assentamento Pontal, que hoje é local de moraria, motivo de orgulho e garantia de produção para 27 famílias.
Viúva há 3 anos e como todos os filhos e netos criados, Dona Emília vive hoje na companhia de uma de suas netas e tira o seu sustento de dentro do próprio quintal. Com muita disposição, ela trabalha dia e noite quebrando coco babaçu, criando galinhas e cuidando com carinho da sua horta. Mas a horta da Dona Emília não é uma horta qualquer. É uma horta agroecológica!
Foi com a ajuda da APA-TO (Alternativas para a Pequena Agricultura no Tocantins) que a Emília começou a trabalhar com a agroecologia e, hoje em dia, ela não troca isso por nada. Para ela, trabalhar a terra, reconhecer sua identidade de agricultora agroecológica, é algo que traz muita dignidade.
“Agroecologia é uma escola. Cada dia que você trabalha, você aprende”, disse Dona Emília. E bota aprendizado nisso. Antes, ela costumava usar adubo químico para ajudar as hortaliças a descerem, mas foi percebendo que o efeito era muito temporário e, ainda por cima, ia transformando a terra em pó. Hoje Dona Emília sabe que é muito melhor usar adubos naturais, como o esterco de gado, galinha e de palmeira.
Com eles, as plantas crescem fortes e o solo fica escuro, fofinho o tempo inteiro, além de ter a certeza que seus alimentos não estão sendo contaminados com veneno. Sem o solo sadio, o cheiro verde, o quiabo, a abóbora, o coentro, a cebolinha, a couve, o tomate, o gengibre e a pimenta da horta da emília não conseguiriam se desenvolver bem. Por isso, além de se preocupar com o adubo que coloca nos canteiros, a Dona Emília também aproveita as folhagens das árvores que tem no quintal para fazer a cobertura da terra. Além de também ajudar o solo a ir recuperando seus nutrientes, a cobertura mantém a umidade por mais tempo.
Um exemplo disso é o cultivo da cebolinha, que antes não podia passar um dia sem ser regado que já sofria muito, e hoje em dia, com a ajuda das folhagens, pode aguentar até 3 dias com a mesma rega. E não são só esses os benefícios de fazer a cobertura dos canteiros. Dona Emília foi percebendo também que, com a folhagem na terra, o mato não cresce em volta dos cultivos e isso fez com que ela ganhasse até mais tempo para se dedicar a outras atividades, já que não precisa mais capinar os canteiros.
Sem dúvidas, a horta agroecológica da Emília trouxe muita qualidade de vida para ela e para sua família. Além de consumir um alimento sadio e de qualidade, ela ainda consegue vender seus produtos na feira da cidade, o que leva saúde também para outras famílias e garante o trocadinho do mês no bolso da Dona Emília.
E não foi só na renda e na saúde que a horta fez diferença. Trabalhar com as hortaliças trouxe também para a Emília algo que não tem preço: a autonomia! Foi com o trabalho na terra que ela foi se tornando cada vez mais livre, foi aprendendo a se virar e, com o dinheirinho que junta, não depende de ninguém. Para ela, ser mulher autônoma, que faz a sua renda, que vive a sua vida, que não precisa dar satisfação para ninguém, é bom demais. E com muita firmeza ela diz: “Depois que eu comecei a trabalhar, eu renasci”.
A horta agroecológica foi tão marcante para a vida da Dona Emília que ela sonha em desenvolver seus cultivos cada vez mais, sempre pensando no bem-estar da sua família e da sua comunidade, pela qual ela sente um carinho muito especial. E ela com certeza já está realizando esse sonho, uma vez que, a partir da sua experiência, mais 4 famílias do projeto de assentamento começaram a produzir em seus próprios quintais. E é assim, de pouco em pouco, com pessoas inspirando pessoas, sempre com muita força e esperança, que devemos seguir, buscando sempre correr atrás dos nossos sonhos e fazer do mundo um lugar melhor para todos e todas.
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