Lourival Barbosa da Cunha e Maria do Socorro Oliveira são casados e moram há 26 anos no Projeto de Assentamento (PA) Mulatos, que fica em Esperantina, região do Bico do Papagaio, no extremo norte do estado do Tocantins. Quando conseguiram o seu pedacinho de terra, em maio de 1991, os lotes do assentamento já estavam demarcados, mas eles sempre foram envolvidos com sindicatos e associações e sabem bem como é exigente a luta de quem quer uma distribuição de terras que seja justa para todos.
O começo da vida em Esperantina foi bem difícil. Quando chegaram no PA, a Socorro estava grávida do Natanael, o segundo dos 4 filhos do casal, e eles moravam em um barraquinho de palha. Mas com muita união, a família foi enfrentando as dificuldades que apareceram pelo caminho. Em 1994, quando as crianças já estavam maiorzinhas, eles precisaram deixar de morar no lote para buscar melhores condições de estudo, já que na região do assentamento não havia as mesmas oportunidades que existem no dia de hoje. Ter que ir todos os dias da vila onde passaram a morar até o lote, para cuidar da terra, exigiu sacrifício e paciência de toda a família durante 15 anos. Mas uma coisa é certa: nenhum deles abandonou o sonho de voltar a morar no lote, de se sustentar do seu próprio pedacinho de terra. E foi em 2009, quando voltaram a morar no lote, que esse sonho começou a se tornar realidade.
Hoje, o Natanael e sua irmã mais velha já se casaram e não moram mais com os pais, e quem faz companhia para o Loro e a Socorro é o Lucas e a Luana, os filhos gêmeos do casal, de apenas 3 anos de idade. Apesar disso, todos os dias o Natanael está na casa dos pais, porque sempre gostou muito de trabalhar na terra e ajudá-los é algo que o deixa realizado.
Depois de 8 anos de muito trabalho intenso de toda a família, dá gosto de ver a propriedade deles. Ela não é uma propriedade qualquer, é uma propriedade agroecológica diversificada! Isso porque lá eles têm de tudo um pouco: horta agroecológica; sistema agroflorestal; roça; criação de galinhas, de porcos e de peixes cisterna; apicultura. E o mais legal de tudo isso é que uma coisa está integrada na outra. Além de servirem de alimento para a família, as hortaliças também são consumidas pelos animais, que retornam com as fezes, que são utilizadas como adubo junto com a cobertura verde feita do mato que é roçado e das folhas que caem das árvores, o que ajuda a melhorar o solo que recebe os plantios. É como a Socorro diz: “Aqui a gente não perde nada”.
Com tanta coisa boa num lugar só, dá para imaginar que o que não falta é trabalho. Mas para dar conta de tudo, a família inteira se envolve e se ajuda. Para que tudo seja feito com qualidade, as responsabilidades são divididas e assim não fica pesado para ninguém. Enquanto um está regando as plantas, outro está dando de comer para os animais, outro está preparando o café da manhã e assim, no dia-a-dia, a produção vai crescendo cada vez mais. Além da divisão de tarefas, quando alguma delas é mais exigente, como a colheita de mel, por exemplo, todos se juntam para fazer o mesmo serviço, que se torna muito mais leve e alegre.
Ao longo de todos esses anos, a família viu muita coisa mudar. Antes, eles produziam poucas coisas, só para consumo próprio. Agora, já tem arroz, feijão, milho, mandioca, fava, amendoim, açaí, banana, melancia, quiabo, pimenta de cheiro, pimenta ardilosa, cebolinha, rúcula, jiló, tomate, coentro, cenoura, alface, que além de serem consumidos pela família, ainda são vendidos na feira e em programas de compra direta. Com isso, a renda do Loro e da Socorro melhorou bastante, porque além de economizarem por não precisarem comprar fora, ainda dá para gerar um dinheirinho extra.
Isso sem falar nos benefícios que as experiências agroecológicas trouxeram também para a saúde da família. Produzindo sem veneno e aproveitando os recursos que a natureza nos dá, eles têm a certeza que estão consumindo e oferecendo algo saudável e de qualidade. As vantagens de trabalhar assim são várias e o Loro sabe bem: “Quando se fala agroecologia, você está imaginando qualidade de vida pra você, pra sua família e pra quem está aí no planeta”.
É assim, sempre pensando na melhoria da vida de todos, que o Loro, a Socorro e o Natanael seguem trabalhando e sonhando. Todos eles querem melhorar aquilo que já têm, para poderem cada vez mais se sustentar da terra que é deles. Além disso, fica também o desejo que as futuras gerações deem continuidade ao trabalho no campo, tão necessário e importante para a vida de todos nós. Que a experiência linda dessa família seja sinal de inspiração para que saibamos que juntos e juntas podemos fazer desse mundo um lugar melhor.