Jucilene da Conceição mora há 10 anos no Projeto de Assentamento Sete de Janeiro, no município de Araguatins — TO. Antes de ter o próprio pedacinho de terra, ela vivia com a família no lote de seu sogro e passou 10 meses acampada, até ter a alegria de ser sorteada para receber seu próprio lote. Junto com o marido, sempre mostrou para seus sete filhos a importância de plantar, o que ajudou a despertar no coração de Katarina, sua filha de 15 anos de idade, o gosto por cultivar a terra. Hoje em dia, a Jucilene possui uma horta agroecológica e a Katarina, um sistema agroflorestal (SAF).
São duas experiências agroecológicas que fazem com que mãe e filha aprendam muito uma com a outra. Do mesmo modo que a Katarina aprende com a experiência de vida dos pais, ela ensina para a família tudo o que descobre com os seus estudos na Escola Família Agrícola. A Jucilene, por sua vez, transmite seus conhecimentos à Katarina e conti-nua sempre a aprender com as descobertas da filha e também com a participação em movimentos sociais, sindicatos e organizações. É essa troca de conhecimentos entre mãe e filha que garante o sucesso da horta agroecológica e do SAF.
Na horta da Jucilene, os venenos não têm vez. Ela, junto com sua família, cuida com muito carinho de tudo que é plantado: cebolinha, couve, alface, quiabo, coentro, tomate, rúcula, pimenta de cheiro, pimentão, milho, pepino, cenoura. Quando aparece algum inseto que pode prejudicar a horta, ela utiliza inseticidas naturais, como é o caso da água que sobra do cozimento da mandioca, da manipueira e das folhas de ninho batidas no liquidificador. Com a agroecologia, ela aprendeu que é possível plantar mais de uma hortaliça no mesmo canteiro, pois cada planta pode ajudar a outra a se desenvolver e quando chega o tempo de colher, outra variedade pode ocupar o seu lugar. Na horta agroecológica, para melhorar o solo também é tudo natural.
Aproveitando as folhas que caem das árvores, a palha do milho ou a palha da fava, por exemplo, a Jucilene faz a cobertura do solo no próprio canteiro, perto das plantas, e nos corredores que existem entre um canteiro e outro. Além de servir como adubo, as folhas não deixam o mato crescer em volta das hortaliças, ajudam a manter uma temperatura mais agradável para as plantas e também diminuem a quantidade de água que precisa ser usada para regar, já que a cobertura mantém a umidade no solo. A cobertura do solo também é um elemento muito importante para manter a qualidade de tudo que é plantado no SAF da Katarina, que é um consórcio de várias plantas, entre hortaliças e árvores frutíferas e não frutíferas: feijão, milho, berinjela, abacaxi, mogno, laranja, açaí, limão, ingá, acerola, manga.
Aqui, também se nota que uma planta ajuda a outra. O açaí, por exemplo, pode ser plantado próximo ao pé de manga para aproveitar sua sombra e os nutrientes das folhas que caem. Comparando esse sistema agroflorestal com um plantio convencional, a Katarina garante que vale muito a pena, porque num espaço pequeno (10 m x 10 m) é possível plantar muitas variedades e ainda economizar água, já que um plantio se encontra próximo do outro e não é preciso regar grandes pedaços de terra.
Os benefícios de tanto cuidado e carinho com a terra são bem claros. A renda da família melhorou bastante, porque o alimento que antes seria comprado, agora pode ser adquirido do próprio quinta. Além disso, boa parte do que é colhido, é comercializado através da COOAF-Bico (Cooperativa de Produção e Comercialização dos Agricultores Familiares Agroextrativistas e Pescadores Artesanais de Esperantina Ltda). Mas não foi só o bolso que sentiu a diferença. As experiências da Juscilene e da Katarina também fizeram bem para a saúde, porque elas não usam veneno naquilo que plantam, então é tudo mais natural e saudável.
É importante destacar, por fim, que tanto para a horta, quanto para o SAF, mãe e flha reconhecem a importância do trabalho coletivos, não só da família, mas também de outros membros da comunidade. Através de visitas de intercambio de experências em outros projetos de assentamento, de mutirões e de troca de sementes e saberes, a Juscilene e a Katarina reconhecem que aprenderam muito e alimentam, juntas, o sonho de que suas experiências agroecológicas cresçam cada dia mais e que mais pessoas aprendam que é possível viver da terra.
Como a Juscilene deixa claro, ” com consciência e sabedoria, a gente rompe barreiras”. Que a experiência desta família seja grande inspiração para acreditar nesse recado e seguir lutando pela terra.
O informativo sobre essa experiência pode ser lido aqui.