Intercâmbio de sementes crioulas é fonte de esperança da conservação de variedades


Cosmo Nunes da Paixão é um agricultor que chegou ao Bico do Papagaio ainda criança. Vive na Comunidade Olho D’Água, na terra que foi de seus pais, e cultiva as mesmas sementes que o pai plantava há 50 anos. Ele conta que as variedades enviadas para os povos indígenas Krahô-Kanela e Xerente na segunda-feira (30), são cultivadas desde quando a família chegou à região. São plantadas, colhidas, reservadas e novamente semeadas, ano após ano. O intercâmbio de sementes crioulas entre agricultores e povos indígenas do Tocantins é promovido pela APA-TO e o Conselho Indigenista Missionário (CIMI).
Cosmo destaca que envia as sementes de um milho especial. Um milho forte e resistente, que pode ser consorciado com outras variedades, como a fava. “Nós plantamos toda variedade dentro. Por que nós gostamos dele? Porque ele é um milho que é forte, você pode plantar fava nele e ele não quebra. Ele não cai com a fava, a fava enrola nele, ele seca e a fava bota. Então, esse milho, nós costumamos plantar ele por que ele não anda apodrecendo, não anda dando lagarta, borboleta”, completa. Ele ainda conta que o inhame sucuri/sucuruiú que enviou pode chegar a pesar até 10kg.
As sementes crioulas são cultivadas por povos indígenas, populações tradicionais e agricultores familiares há décadas. Essas sementes são selecionadas anualmente e geralmente estão bem adaptadas ao ambiente, além de apresentarem uma vantagem ante às sementes híbridas ou transgênicas. As sementes transgênicas ou híbridas são elaboradas para se desenvolverem mediante a um pacote tecnológico de agrotóxicos e fertilizantes e que necessita ser comprado todo ano. Esse compartilhamento garante a manutenção dessas variedades e fortalece os  agricultores camponeses.
“A gente manda carinhosamente essas sementes. Quando a gente perde uma semente é uma coisa que a gente fica preocupado, com esses transgênicos que eles estão trazendo pra gente plantar, que todo ano a gente tem que comprar. Eu tô com a idade bem avançada, não sei se ano que vem eu ainda vou plantar o milho… Mas quando a gente repassa sementes pra outros irmãos, a gente tem a garantia que a semente não vai se acabar na nossa região”, finaliza.