Jovens de comunidades rurais se articulam para permanência no campo e manter a produção agroecologia

Os jovens tem se organizado e buscam diariamente alternativas para manter a produção agroecológica

Pensar em juventudes do campo é desafiador nestes tempos que ameaçam às políticas públicas e as perdas de direitos básicos. Por não haver tanto apoio no meio rural para as famílias, os jovens procuram outras alternativas de trabalho na cidade, o que prejudica significativamente a produção agroecológica, tão necessária para o país.
De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad/IBGE) os dados apontam que em 2017 jovens brasileiros correspondia então à 23,4% do total da população. Informações do Censo Demográfico de 2010 apontaram a existência de 8 milhões de jovens rurais no Brasil. Sendo assim, considerando o total de 51 milhões de jovens brasileiros à época (23,4%), a juventude rural compreendia cerca de 15,7% da juventude brasileira.
Porém, ainda em dados preliminares do Censo Agropecuário de 2017 aponta o envelhecimento da população rural brasileira, e o censo agropecuário anterior (2006), indicaram que 17,52% dos agricultores tinham mais de 65 anos. Esta proporção aumentou para 21,4% em 2017.
A produção agroecológica na comunidade permanece ativa nestes tempos de pandemia.

Em 2019, a APA-TO realizou uma pesquisa para compreender os sonhos das juventudes rurais e construir junto com a juventude caminhos para a sua permanência no campo, por meio de questionário e rodas de conversas.    Participaram da pesquisa 245 jovens quilombolas, quebradeiras de coco, acampados e assentados de 44 comunidades rurais
Segundo a pesquisa, as condições de trabalho para as juventudes rurais no Bico de Papagaio, assim como no cenário brasileiro, não são fáceis. “Há informalidade, desemprego, trabalho precário. Ainda existe uma desvalorização do papel dos jovens e das jovens, e sua atuação não é considerada trabalho, apenas ajuda”.
Mesmo diante de todas as dificuldades, as juventudes das comunidades rurais do Bico do Papagaio resistem por meio da produção agroecologia, algo pontuado no levantamento da APA-TO. “Produzir no campo, cuidar da natureza e promover saúde e bem-estar para toda a comunidade. Informam ainda, que 51,9% dos jovens produz sem agrotóxicos e 74,2% considera a produção agroecológica melhor”.
O azeite de coco babaçu e as hortaliças são um dos principais produtos de comercialização das famílias

Resistência
O Território do Bico do Papagaio – TO é um exemplo de como as juventudes rurais tem sido prejudicada com a perda de direitos, mas que resistem, buscando alternativas para se manter no campo. A jovem agricultora e quebradeira de coco da comunidade de Olho D’Água, município de São Miguel, Maria Divina Paixão, de 28 anos, casada e mãe de dois filhos, afirma que organização da produção agroecológica, neste período de pandemia, tem sido feita com o envolvimento de todas as famílias da comunidade.
“Neste período de pandemia o azeite de coco babaçu tem sido o nosso principal produto agroecológico. É a maior procura do momento. A APATO tem nos ajudado muito com a venda do azeite de coco babaçu. Da última vez, vendemos 316 litros de azeite de coco babaçu para colocar na cesta agroecológica distribuídas às famílias que mais precisam na pandemia”, relata.
O jovem agricultor Leonardo Santos, 22, casado e pai de um filho, também da comunidade Olho D´Água, explica que apesar das inúmeras dificuldades, ele participa de duas iniciativas que mobbilizam jovens das comunidades rurais. “Temos dificuldade de permanecer no campo junto com nossas famílias. Mas nós resistimos. Tenho participado do curso ‘Jovens semeando agroecologia’, iniciado em agosto de 2019 e criamos o Coletivo da Juventude dos Calistos. Com essas duas ações temos motivado a juventude em contribuir com a produção agroecológica”.
Os jovens contribuem diretamente com a produção agroecológica

Maria e Leonardo ressaltam que as ações de intervenção têm mobilizado a juventude da comunidade, desde a produção até a comercialização, que agora já podem vender em feiras do município de São Miguel. Porém neste período de pandemia, as feiras foram suspensas, mas mesmo assim as famílias ainda conseguem vender na banquinha da comunidade instalada na cidade ou entregar alguns produtos para as pessoas que solicitarem.
A produção principal das famílias da comunidade de Olho D´Água são os cultivos de horta, milho, mandioca, banana, caju, cupuaçu e azeite de coco babaçu. Leonardo relatou que antes da pandemia, a população de São Miguel comprava diretamente os produtos agroecológicos de Olho D’Água “por não ter uso de veneno [agrotóxicos]”.
Os jovens relatam seus sonhos em meio aos inúmeros desafios que devem ser enfrentados dia a dia: “Ter uma escola pública para as crianças e adolescentes, que haja mais valorização do trabalho desenvolvidos pelos camponeses e que as autoridades criem outras formas de comercializar a produção agroecológica”.
Uma das solicitações das mães jovens das comunidades rurais é que tenha no território uma escola pública para seus filhos