A Luta dos movimentos sociais do Bico do Papagaio é realizada por organizações, como o MST, os STTR´s, o MIQCB, a COEQTO, a Rede Bico Agroecológico e a APA-TO. Essa luta se intensificou, sobretudo, nos períodos de pandemia, aonde se realizou vários eventos, mesmo que online na tentativa de manter a formação política de suas bases. É momento de rebeldia e que eleva a ansiedade das juventudes na região do Bico do Papagaio na defesa dos biomas Cerrado e Amazônia. Ambos sofrem ameaças dos grandes projetos.
O território dessas populações precisam resistir e é por isso que conversamos com a jovem Laís Cardoso, integrante do Coletivo da Juventude do MST, moradora da Cidade de Carrasco Bonito, quebradeira de coco e filha de quebradeira de coco. Ela é uma das lideranças da juventude nesse momento complicado em que vive o Brasil: um momento de crises políticas e com o governo autoritário. Leia o bate-papo:
Como surgiu a ideia de articulação da juventude do Cerrado?
Eu venho de um movimento onde tem muito comum a linha política e o compromisso da juventude na luta pela terra, na defesa do nosso território, na contribuição com a construção dos assentamentos e acampamentos populares como uma fortaleza e o anúncio do “Bem-Viver” produtivo; embelezado; lúcido; alegre e combativo.
Nos comprometemos a organizar os “coletivos de juventudes” enquanto forças vivas dos nossos territórios a partir das várias dimensões e formas da agroecologia trabalho e renda auto-organização nas escolas, comunicação, cultura, esporte e lazer entre outras. Iniciativas que respondam às necessidades da nossa juventude estimulando a permanência desses jovens no campo; a injeção nos diversos setores e frentes do movimento e da reforma agrária popular. Militantes, dirigentes e quadros políticos jovens para nossa organização e luta de classe, a partir de uma prática que alia a formação política, cultural e técnica à luta e ao trabalho de organização do povo.
Na região onde você mora, no estado do Tocantins, Bico do Papagaio, um local onde tem também o Bioma Amazônia. Como é essa questão das disputas territoriais também no Bioma Amazônia, onde vocês se articulam?
Acredito que nas demais regiões do estado e do país nosso principal opositor é o agronegócio. Porque está mais que comprovado que ele não doou e não produziu nenhum alimento e o que produziu, foi para exportação. Quem está produzindo são os povos do campo; são as comunidades tradicionais. Somos nós aqui do Bico do Papagaio. A gente enfrenta uma ameaça direta: que é um plano de expansão territorial. Esse plano macabro é um projeto de morte, que é o “Matopiba”, que se implementado por completo, nós teremos 99,96% do nosso Cerrado, do nosso bioma Amazônia destruídos, aqui da região, aumentando assim a seca, a fome, a destruição da terra, dos nossos territórios, o aumento das doenças pelo envenenamento com o uso de agrotóxico, que é usado nas práticas agrícolas desse projeto. Então, a gente enfrenta diretamente essa realidade, que a grande mídia é amiga. E a gente, que está dentro das áreas não esquece, a gente que está dentro agora não tem como esquecer, não tem como deixar de se denunciar isso, porque são milhares de pessoas morrendo. São milhares de pessoas desabrigadas, são milhares de pessoas passando fome, eu não falo só da região do “Bico”, eu falo de todo o país. Então, eu acredito que nosso principal oponente nesse momento é agronegócio.
Como fazer com que outras juventudes consigam se espelhar em vocês, também jovens, para engrossar as fileiras de resistências?
A gente que se compromete a articular e organizar os jovens do campo, em especial dentro de acampamentos e dos assentamentos, tem como uma das prioridades o estímulo à permanência da juventude no campo. E como citei anteriormente, a gente utiliza vários meios, várias formas de comunicação, de arte e cultura, no esporte é no lazer. Mostrar que nossas áreas, nossos territórios são espaços de “Bem Viver”.
Então, a gente tem muito isso aqui no Bico do Papagaio temos também espaços que agrega o jovem de várias etnias, jovens quilombolas, quebradeiras de coco. Mesmo a gente, tem como objetivo articular essa juventude para lutar pelos territórios, então, nós do Jovens em ComunicAÇÃO e do GT, ultimamente se tem trabalhado fazendo vínculo da juventude do campo e cidade. Essa juventude trabalha com agricultura urbana trabalhando técnicas de hortas orgânicas e tem-se trazido também as nossas experiências para o campo. E isso é uma contínua troca de experiências para fazer com que essa juventude continue nas nossas atividades acreditando que o campo é um espaço onde vive e é o nosso espaço, por onde se deve lutar. Então, temos várias atividades que configuram nossa articulação para que essa juventude permaneça nesta trincheira de luta.
Sabe-se que é a esperança que mantém a luta de vocês. É possível caracterizar algumas conquistas nesse momento? Quais?
Encontramos sim, pontos positivos. Nós estamos nos preparando aqui no Bico do Papagaio com toda essa situação. Infelizmente vários companheiros tombaram por conta desse vírus, mas, nós temos aqui hoje no “Bico” uma juventude que está se erguendo, que está se articulando… A juventude quebradeira de coco em sintonia com a juventude quilombola, em sintonia com a juventude acampada, com a juventude assentada, sintonia com a juventude indígena sempre se articulando para estar contribuindo nas áreas, nas formações, nos conhecimentos.
A gente tem encontrado isso muito presente, nesse período, mesmo distante a gente tem encontrado isso muito presente. Tem-se alavancado e muitos aos setores de produção é a juventude do campo produzindo e esses alimentos que estão produzindo, alimentos que não são utilizados agrotóxicos nos alimentos produzidos com práticas agroecológicas estão chegando até a cidade aos setores periféricos da cidade que estão sofrendo muito com essa crise, estão chegando as aldeias também, estão chegando às comunidades quilombolas. E a gente tem tido esses pontos positivos.
A articulação da juventude aqui no Bico do Papagaio, através desses grupos que estão se formando os GT das juventudes e o também os Jovens em ComunicAÇÃO, que já citei anteriormente e também os nossos setores de produção, sempre produzindo que a gente tem para gente, sempre é esse lema, sempre essa palavra de ordem, que não queremos mais mortes, nem pelo vírus e nem pela fome.