O ano de 1999 pode ter sido só mais um ano comum na vida de muitas pessoas. Mas, esse não é o caso da família do Luís Soares de Almeida. Logo no primeiro mês desse ano, ele e a esposa, Solinete Almeida de Souza, tiveram a alegria de ver o Projeto de Assentamento Santa Juliana ser criado. O que antes era a fazenda de um único dono, hoje é local de moradia e motivo de orgulho de 100 famílias. E é ali, em uma porção deste pedaço de terra em Axixá do Tocantins, que o casal vive com os dois filhos e passa dia e noite cuidando da roça, da horta e de suas galinhas.
Uma coisa, portanto, que nunca faltou na vida do Luís e da Solinete é trabalho. Cuidar da terra e de animais é uma tarefa que exige muita dedicação e vontade de aprender a todo tempo. E foi desse jeito que o casal descobriu como poderia melhorar sua criação de galinhas e resolveu testar uma experiência nova, até então desconhecida, mas que já fez muita diferença na vida deles: um galinheiro bioconstruído.
A diferença entre uma construção normal e a bioconstrução é que a bioconstrução causa bem menos impacto no meio ambiente e utiliza materiais com um custo mais baixo. E é justamente isso que a gente vê no quintal do Luís e da Solinete. Se antes as galinhas eram criadas soltas no terreno, hoje, além de um espaço cercado reservado para elas, ainda há o galinheiro bioconstruído, que é dividido em três partes: uma para as galinhas botarem e chocarem os ovos, outra para as mais jovens dormirem, e uma terceira, utilizada quando é necessário separar alguma galinha que está choca.
Ele foi feito em dois dias, em um mutirão que contou com a ajuda de um técnico e de várias famílias da comunidade. O principal material utilizado foi o bambu. Diferentemente de outras árvores, o quando o bambu é retirado, ele logo se renova. Se outro tipo de madeira fosse cortado das matas, haveria um impacto ambiental muito grande.
Além disso, o bambu é mais leve e pode ser cortado com ferramentas muito simples, então não é preciso contratar outras pessoas para fazer esse tipo de mão de obra. Antes de serem fincadas no chão para se tornarem as paredes do galinheiro, cada peça de bambu passou por um tratamento para evitar o ataque de brocas e aumentar a durabilidade.
Além do bambu, alguns troncos de palmeira também foram usados para ajudar a dar a sustentação da estrutura, que conta com um único elemento não-natural: garrafas PET, que em outras situações seriam descartadas e gerariam outros problemas ambientais. As garrafas foram utilizadas para revestir os pés dos bambus, na parte em que há contato com a terra, para ajudar a proteger e durar mais tempo, e também para fazer as amarras de uma peça na outra. Depois de pronta a estrutura, ela foi coberta com palha de palmeira de babaçu e o piso foi feito de solo cimento, que é uma mistura de terra argilosa com cimento numa proporção 10:1.
Mesmo sendo algo muito simples, a Solinete garante: “deu resultado e ainda vai dar muito mais”. Quando as galinhas eram criadas soltas, era comum haver ataques de outros bichos. Agora, elas ficam bem mais protegidas e já não existe mais esse problema, o que é bom, porque economiza tempo da família, que não precisa mais ficar correndo atrás das galinhas para protegê-las do perigo, e também porque não prejudica a produção, mesmo que a família crie as galinhas para consumo próprio e raramente venda para outras pessoas.
Além disso, as galinhas agora têm onde se abrigar da chuva, porque o galinheiro é coberto, o que as faz crescer de forma mais confortável e saudável. É importante dizer que as 100 galinhas que o Luís e a Solinete criam são caipiras, que são muito mais sadias que as galinhas de granja. que sempre recebem muitos hormônios e são tratadas com muitos remédios artificiais. Desse jeito, a criação ajuda a manter a segurança alimentar e a saúde do casal e dos seus filhos. Junto com todos esses benefícios, o que melhorou também foi a renda da família, que já não precisa mais comprar ovos e galinhas no mercado para se alimentar.
Com todas essas melhorias que o galinheiro feito com bioconstrução trouxe para a vida do Luís e da Solinete, não é difícil deduzir que eles pretendem aumentar ainda mais a área, para trazer cada vez mais qualidade de vida para toda a família. Alé disso, o sonho se estende às futuras gerações e a toda a comunidade, já que seu Luís gostaria muito que seus filhos e netos continuassem com a criação das galinhas e que outras pessoas pudessem se inspirar na experiencia dele e da esposa.
E como diria o ditado, “de grão em grão, a galinha enche o papo”. E é assim também, de pouquinho em pouquinho, que vamos tornando nosso mundo um lugar melhor.
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