Bem ao norte do Brasil, no estado do Tocantins, existe uma cidade chamada Esperantina. E é nesta cidade que se localiza o Projeto de Assentamento Mulatos, mais conhecido simplesmente por PA Mulatos, onde desde 1991, ano de sua criação, aproximadamente 64 famílias moram e trabalham todos os dias. Porém, para quatro dessas famílias, a sexta-feira é um dia diferente dos outros da semana. É neste dia que as famílias do Antônio Conceição dos Santos de Souza, do Natanael Oliveira da Cunha, do Itamar Bispo dos Santos e do Francisco Rodrigues da Silva se reúnem para fazer um mutirão que tem um objetivo muito claro: melhorar a produção de hortaliças.
Este esquema de trabalho, onde algumas famílias se juntam e formam um grupo produtivo, é uma prática até que antiga na região, mas que, com o passar do tempo, foi se perdendo. Porém, felizmente, as famílias do Antônio, do Natanael, do Itamar e do Francisco perceberam a necessidade de se organizar para retomar o mutirão e já faz aproximadamente dois meses que ele vem acontecendo novamente.
Como há 4 famílias no grupo e o mutirão ocorre uma vez por semana seguindo um sistema de rodízio, todo mês, cada família recebe o mutirão em sua casa pelo menos uma vez. Além das sextas-feiras do mutirão, de vez em quando as famílias também combinam entre si algum outro dia para se reunir para pensar o que tem sido positivo e o que ainda pode ser melhorado para ajudar a todos.
Mas de que maneira o mutirão pode ajudar a melhorar a produção? A resposta é simples e pode ser resumida em uma frase muito conhecida: a união faz a força! Se uma família sozinha, em um dia, consegue levantar no máximo dois canteiros, no mutirão, com a ajuda de mais três famílias, esse número já sobe para cinco ou seis canteiros. Em um dia de mutirão, praticamente todo o trabalho de cuidado com a horta é feito: a área que vai receber os plantios é limpa e capinada, a terra é arada, os canteiros são levantados, o material para fazer a cobertura do solo é triturado e, caso já tenha mudas disponíveis, também é feito o plantio. Assim, a família que recebe o mutirão em sua casa fica com mais tempo livre para poder se dedicar a outras atividades e precisa se preocupar apenas em regar as hortaliças e manter os cuidados com a horta, porque a parte mais exigente do trabalho já foi realizada pelo grupo.
Mas esse não é o único benefício do mutirão. Além de haver união de forças para o trabalho, tem também união de saberes. As quatro famílias falam muito sobre a importância do mutirão para a troca de aprendizado. São famílias diferentes que fazem parte do grupo e, portanto, são também diferentes os modos de vida, as experiências, os conhecimentos que cada uma tem e, dessa maneira, no trabalho conjunto, cada um vai dizendo o que sabe e as quatro vão aprendendo como cuidar melhor da terra, o que fazer para melhorar o solo ou para economizar água na irrigação.
E as mudanças que o trabalho em mutirão traz já estão sendo percebidas pelas 4 famílias do grupo produtivo. Para todas elas, aumentou a segurança alimentar, porque agora a garantia de ter um alimento saudável em casa, produzido sem veneno, é bem maior. Fora disso, o mutirão ajudou demais na produção de excedente, porque além de não faltar comida para cada uma das famílias e de economizar dinheiro por não precisarem comprar fora, ainda é possível gerar renda extra a partir da venda dos produtos na feira.
Para isso, o cultivo das hortaliças é muito bem pensado pelas famílias do Antônio, do Natanael, do Itamar e do Francisco. Elas combinam os tempos e tipos dos cultivos entre si para que sempre todas tenham algo diferente para oferecer na feira e, desse jeito, todo mundo sai ganhando. Da mesma maneira que o trabalho, os sonhos das quatro famílias do grupo produtivo do PA Mulatos também são grandes e coletivos. Todas elas alimentam o desejo que outras famílias da comunidade se inspirem nessa experiência de compartilhamento de forças e saberes para que o mutirão cresça cada vez mais, sendo sempre sinal de melhoria da qualidade de vida, de resistência e de luta para um povo que, mesmo sendo sempre colocado à margem e enfrentando diversas dificuldades, faz jus ao nome da cidade onde vive por sempre manter acesa a chama da esperança no coração.
Confira o informativo dessa experiência aqui.