Antônio Barbosa, mais conhecido como Antônio Professor, tem este apelido por um motivo muito claro: desde 1992, trabalhou 18 anos como professor na região do Projeto de Assentamento Ouro Verde, no município de Araguatins – TO, que na época ainda nem tinha sido regularizada como Projeto de Assentamento. O seu Antônio acompanhou todo o processo de luta da comunidade e quando as parcelas do assentamento foram finalmente divididas, em 1994, ele conseguiu um lote, onde mora até hoje com a esposa e o filho.
Hoje em dia, Antônio já não trabalha mais na sala de aula, mas passa o dia fazendo algo que o ensina muito: trabalhando a terra, plantando, colhendo, cuidando das suas galinhas. Dentre as tantas coisas que aprendeu, uma é essencial: sem água, não dá para fazer nada disso. Por isso, ele sabe que é muito importante economizar e coloca esse aprendizado em prática no dia-a-dia através de um sistema de reaproveitamento de águas cinzas.
As águas cinzas são aquelas que saem do chuveiro, depois que tomamos banho; da pia do banheiro, depois de lavarmos as mãos ou escovarmos os dentes; da pia da cozinha, depois de lavarmos a louça; ou do tanque e da máquina, depois de lavar roupas. Dá para perceber que é muita água que acaba indo pro ralo, mas que poderia ser utilizada para fazer muitas coisas. E é justamente essa a ideia do sistema de reaproveitamento que tem na casa do seu Antônio Professor.
Por enquanto, no sistema do Antônio, somente as águas que saem da pia da cozinha são reaproveitadas, mas ele e a família desejam aumentar o sistema no futuro para conseguir economizar e aproveitar cada vez mais.
O sistema é formado, basicamente, por 4 tambores, que são ligados um ao outro através de canos. O primeiro tambor, que recebe diretamente a água que sai da pia, funciona como uma caixa de gordura, onde fica boa parte dos resíduos de comida que boiam na água. Para minimizar a quantidade de resíduo que entra, o seu Antônio protege a boca do primeiro tambor com uma tela.
O segundo tambor funciona como um reservatório e também tira mais uma parte da sujeita, antes da água chegar no terceiro tambor. Lá, a água passa por uma camada de cascalho grosso e brita, que funciona como um filtro que faz a água chegar mais limpa ao último tambor, que, além do cascalho e da brita, tem também uma camada de areia, que ajuda a limpá-la ainda mais, antes de passar pelo filtro final e sair do sistema.
Com a água que sai do sistema de reaproveitamento, o Antônio Professor consegue irrigar por gotejamento os pés de cupuaçu, de coco da praia, de pimenta malagueta e de cacau. Mesma não sendo possível utilizar a água do sistema em todos os cultivos que tem no quintal, por não ser suficiente, Seu Antônio garante que “foi muito significante”, porque houve uma mudança muito grande na produção. O cupuaçu, por exemplo, corre o risco de morrer em épocas de menos chuva, porque precisa de bastante água. Com o sistema de reaproveitamento das águas cinzas, o pé deu frutos, mesmo nessa época do ano, porque a água que antes iria embora, foi usada para regá-lo.
Além disso, Antônio também percebeu que, depois de começar a usar a água do sistema, os cultivos tem se desenvolvido melhor e a quantidade de formigas em volta deles diminuiu.
Mas não foram só as plantas que sentiram a diferença. O manejo das galinhas também melhorou bastante. Seu Antônio disse que antes, muitas galinhas adoeciam e muitos pintinhos acabavam morrendo, porque, como são criados soltos, acabavam bebendo água que saía da pia, que muitas vezes tinha sabão, outros produtos de limpeza da louça e restos de comida que não fazem bem para a saúde das criações.
Com o sistema de reaproveitamento de águas cinzas, as galinhas já não adoecem, porque não bebem mais a água que sai direto da pia, e o seu Antônio Professor pode ficar tranquilo porque sabe que vai garantir uma alimentação de qualidade para a família.
Como todo bom professor, Antônio não poderia ficar com o conhecimento só para ele. Por isso, se coloca à disposição para ajudar a implantar o sistema na casa de outras famílias da comunidade que também queiram mudar seus hábitos de economia de água e cuidar do meio ambiente, pois sabe a importância da cooperação e de partilhar uma experiência que dá certo.
Além disso, ele acredita muito no potencial da juventude e sonha que ela esteja cada vez mais inserida na construção dessa mudança que queremos ver no mundo e dá o recado: “Enquanto a gente estiver acordado, a gente tem que estar sonhando”.
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