Árvore centenária que era símbolo da comunidade e que era protegida pelas famílias foi derrubada para produção de madeira.
Quilombolas da Ilha de São Vicente, em Araguatins (TO), denunciam o desmatamento ilegal dentro da comunidade. A área, cercada pelo Rio Araguaia, é moradia de mais de 40 famílias e foi reconhecida pela Fundação Cultural Palmares – órgão do Governo Federal, como território quilombola em dezembro de 2010. Segundo os moradores, invasores estão derrubando árvores sem autorização e destruindo a fauna e a flora, praticando crime ambiental.
Na última semana de janeiro uma árvore centenária, que era protegida pela comunidade, foi derrubada. Os moradores encontraram o tronco caído e madeiras espalhadas pelo território. A árvore é da espécie estopeiro, uma árvore nativa brasileira, era símbolo da comunidade. Os moradores preservavam a árvore desde a chegada ao território e ainda guardam uma fotografia antiga ao lado do tronco em pé.
Mesmo com a posse do território, que ainda está sob domínio da União, os quilombolas enfrentam problemas de invasões. Moradores da zona urbana estão comprando e vendendo terrenos de forma ilegal, com documentos falsos.
Jorlando Ferreira Rocha que é biólogo, Coordenador Agrário da Coordenação Estadual de Comunidades Quilombolas do Tocantins (COEQTO) e pertence ao território, diz que muitas árvores foram cortadas nos últimos meses e que pessoas de fora da comunidade estão invadindo a área quilombola e destruindo o quilombo. “É um cenário de destruição da mata ciliar, realização de roça as margens do rio, construções de casas dentro do território certificado e com Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID) publicado”, explica.
Rocha conta que a comunidade fez ofício e fará denúncia junto aos órgãos ambientais e à polícia. “A comunidade está entregando ofício ao órgão de fiscalização Instituto de Natureza do Tocantins (Naturatins) e Ibama para que sejam tomadas as providências necessárias. São mais de 80 invasores realizando construção e desmatamento dentro do território”, afirma.
Os quilombolas a Ilha de São Vicente ganharam a posse de ilha após comprovarem parentesco com escravizados que receberam a terra em 1888, após a abolição da escravatura. A decisão foi tomada pela juíza federal Roseli Ribeiro, titular da 1ª Vara Federal de Araguaína.
Domingos Willian Barros, morador da comunidade, também lamentou a destruição e pediu providências das autoridades. “O que estão fazendo no nosso território é crime ambiental. Derrubaram uma árvore centenária, sempre protegida pela comunidade. De repente uma pessoa chega e corta sem saber a importância da árvore, sem saber o que ela representa. Ela era o símbolo da nossa comunidade. Isso é crime e as autoridades precisa tomar providências”, relata.
Silvanei Barros Rocha, presidente da associação da Comunidade Ilha de São Vicente, acompanha a situação e cobra uma solução e proteção do território, da natureza e de todas as famílias quilombolas. “Venho lamentar os acontecimentos dos últimos dias sobre as derrubadas de árvores centenárias da nossa comunidade. Estão sendo destruídas por invasores que se dizem ribeirinhos. Estão destruindo a mata. Palmeiras de babaçu, jatobá e por último um árvore com nome de estopeiro árvore centenária. Quero pedir para as autoridades solucionarem esse problema urgentemente”, disse.
Conforme os moradores, que ainda enfrentam problemas de saneamento básico e de infraestrutura, só depois da entrada de invasores na comunidade é que o prefeito de Araguatins, Aquiles da Areia, prometeu a extensão de energia elétrica no território.
As famílias quilombolas disseram que nunca foram procuradas pelo político para falarem sobre as necessidades e demandas mais importantes e que o anúncio é para beneficiar invasores.
Com informações da CONAQ.